Não preciso nem dizer…

Apesar de todo o estardalhaço que a Globo fez do show de Roberto Carlos no Maracanã, não lembrava que seria no dia de ontem. Saímos para jantar, eu e minha esposa num restaurante aqui de nossa cidade e lá ficamos sabendo que o show do rei estava passando pela TV.

Não adianta, tem certos cantores que nos tornamos fãs quer seja pelo talento ou por questões afetivas.  No caso do Roberto Carlos as duas coisas se fundem: acho a fase 70 dele sensacional, além de sempre me trazer à memória minha mãe que não perdia um especial da TV e sempre que podia ouvia o rei lá em casa.

Diante de tais fatos, confesso que em alguns momentos acabei chorando de emoção na mesa do restaurante. Tem canções dele que são de beleza ímpar e o tempo faz com que a poesia de Roberto e Erasmo fiquem como vinho bem encorpado pelo passar dos anos. Mesmo a patrulha intelectual tem que engolir a genialidade de suas canções e bater palmas para a forma impressionante de como elas tocam pessoas de diferentes idades e classes sociais. Eu que estava num restaurante de classe média, testemunhei um casal de idosos aparentando uma vida financeira mais abastada se emocionarem literalmente com as canções de Roberto Carlos. Ao mesmo tempo um garçom, de não mais que 25 anos de vida, também às lágrimas quando tocou “Meu querido, Meu velho, Meu amigo”.  Fiquei imaginando aquela cena se repetindo em tantas casas simples, mansões, butecos ou biroscas em todas as regiões do Brasil. Emoções sinceras de canções sinceras.

O ponto central do show de ontem foi o momento do encontro de Roberto e Erasmo. A visível emoção daquele momento me tocou muito. Eles que já fizeram milhares de vezes o tão esperado momento “meu amigo Erasmo Carlos”, ontem este instante foi de uma tocante emoção. Fiquei pensando que a idade esta passando para os dois.  E ali, diante de 70 mil pessoas, aqueles senhores estavam celebrando uma amizade de mais de 50 anos. Dos tempos em que na Tijuca, Roberto Carlos foi procurar um tal Erasmo por indicação de Tim Maia. E tudo por causa de Elvis Presley: Erasmo era o maior conhecedor de Elvis e tinha as letras das músicas decoradas. Roberto precisava cantar de forma correta as letras do rei do Rock numa apresentação e somente Erasmo tinha! Dai nasceu a celebrada parceria que vimos ontem e que muitos comparam com a de Lennon e Mcartney…

Ontem vi emoção de verdade no palco, o choro de uma vida de altos e baixo. De amizade que abrigou até uma ruptura durante algum tempo. Duas pessoas que tiveram a sua existência carregada de traumas pessoais que por pura predestinação foram unidas e acabaram em muitas de suas canções sendo instrumento de conforto, amor e alegria.

Ali naquele palco vi dois homens que, ao mesmo tempo que celebravam a amizade, tinham no olhar o peso de saber que os dias estão passando. A vida conta os dias, nós acabamos por não acreditar muito nisto. Cinquenta anos já se passaram e hoje eles beiram os 70 anos de vida… Muita coisa passa na cabeça: vitórias, lutas, tristeza, alegrias, traumas e cabeça erguida.

A música que ouvi milhares de vezes só teve real sentido ontem: vi a lágrima e emoção sincera de dois velhos amigos. Sem maquiagem ou truques de cena que as gravações acabam por simular… Choros que não escondem as rugas do tempo de amizade, que botox ou plástica alguma podem esconder.

E ali percebi que amigos são muito poucos mesmo! Daqueles que, conforme a canção tem a devida coragem de dizer “as verdades com frases abertas” e que sempre tem “sorriso e abraço festivo da minha chegada”. Disso posso dizer de poucos, poucos mesmo!

Na hora comecei a lembrar dos poucos amigos de caminhada que tenho. Querem saber? Chorei na mesa pensando no valor das verdadeiras amizades. Valor que dinheiro não pode comprar!

Sonhei em chegar aos meus 70 anos e ter ao meu redor meus amigos de verdade! Sinceros! Verdadeiros! Lembrei do texto bíblico de provérbios que diz:

“O homem que tem muitos amigos sai perdendo;
mas há amigo mais chegado do que um irmão.”

Provérbios 18.24


Apesar de Roberto cantar que quer ter um milhão de amigos, ele tem caminhado junto de um cara que muitos chamam Tremendão. Não quero um milhão de amigos, quero ter alguns e estes me bastarem. Não tenho como não lembrar uma das partes das Escrituras Sagradas que mais me emocionam. Quando Jesus fala do amor dEle pelos discípulos. Amor incomparável, um amor tal que deu sua própria vida em lugar de pecadores. A estes, que ele tanto ama e os fez filhos por seu sacrifício na cruz, Jesus os chama de amigos:

“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a  conhecer.  Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.”

João 15.15-16

Além de ter amigos aqui, minha alma se alegra por saber que sou amigo de Cristo por seu sacrifício! E tudo isto vale mais do que ter um milhão de amigos! Parabéns a Roberto e Erasmo por terem composto ontem uma das mais belas canções que já puderam compor: amizade verdadeira!